Como fazer uma boa redação no Enem

Neste artigo, trataremos da coesão textual, assunto de fundamental importância para o entendimento de texto e na construção de uma boa redação dissertativa no vestibular e também no Enem. Serão estudados os marcadores de coesão, elementos que promovem a ligação entre as partes do texto; como diz Leonor Lopes Fávero, em Coesão e Coerência Textuais, a coesão refere-se "às relações de sentido que se estabelecem entre os enunciados que compõem o texto". A título de exemplo, leia o texto a seguir:

"Atualmente, não há nenhuma prova de que o regime iraquiano esteja implicado nos atentados suicidas", declarou o vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney.
"Ainda não temos uma impressão digital do Iraque que o implique no caso".

Folha de S.Paulo, 19/set./2001.

No enunciado acima, há três importantes marcadores de coesão: o relativo "que", o qual retoma "impressão digital", o pronome pessoal "o", que recupera "Iraque", e o substantivo "caso", que se liga a "atentados suicidas". O entendimento desses três marcadores de coesão só é possível se estabelecermos uma relação com o que vem antes, isto é, "atentados suicidas", "impressão digital" e "Iraque".

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Os marcadores de coesão Coesão por anáfora


Trata-se de pronomes, advérbios, numerais que exercem a função de recuperar um termo (palavra, frase, parágrafo). São chamados anafóricos.

Exemplo 1:

— Líder do Nacional afirma temer seu ex-técnico Marco Aurélio, que deve deixar o time de Campinas após o jogo' de hoje. - Folha de S.Paulo, 22/set./2001.

O relativo "que" é um anafórico, pois recupera o antecedente "Marco Aurélio".

Exemplo 2:

—  Ontem, o secretário do Desenvolvimento e Assistência Social, Nelson Guimarães Proença, esteve na cidade para tentar convencer a comunidade a aceitar a instalação da unidade. Depois disso, a obra deve começar. - Folha de S.Paulo, 22/set./2001.

O anafórico "isso" retoma o período anterior, ou seja, o fato de o secretário tentar convencer a população a aceitar a instalação da unidade.

Os demonstrativos "isso", "esse", "essa" funcionam apenas como anafóricos.

Exemplo 3:

—  Estados Unidos e Síria vivem momentos de tensão. Os dois podem entrar em guerra.
O anafórico "dois" recupera "Estados Unidos" e "Síria".

Exemplo 4:

Nokia.
Um celular em que você fala, o outro escuta, daí ele responde e você ouve.
Espantoso, não?

No texto anterior, o anafórico "ele" substitui o termo "outro"; já o relativo "que", também anafórico, retoma "celular".

Coesão por catáfora


A exemplo dos anafóricos, trata-se de pronomes, advérbios e numerais; todavia, em vez de retomar, projetam um elemento que ainda vai aparecer.

Exemplo 5:

Foi difícil chegar a este design. Tivemos de copiar tudo que os outros não tinham.

No anúncio anterior, o demonstrativo "este" projeta a ilustração do "design", que está à direita.

Ao contrário dos demonstrativos isso, esse, essa - que retomam um termo anterior, os demonstrativos isto, este, esta projetam algo que ainda vai aparecer. Contudo, se houver dois termos para serem recuperados (ou um dos dois), utilizar-se-ão os demonstrativos este e aquele. Por exemplo:

Havia negros e brancos. Estes (brancos) ajudavam aqueles (negros) no resgate dos corpos.

Coesão por sinonímia

A coesão por sinonímia ocorre por meio de sinónimos, expressões sinônimas ou quase sinónimas. A hiperonímia (o conjunto substituindo a parte: animal no lugar de leão) e a hiponímia (a parte substituindo o conjunto: cantora substituindo artista) são tipos de sinonímia. Veja os exemplos a seguir.

Exemplo 6:

Folha — Quais os principais problemas que afetam o país?
Goedgebuur — O problema principal atualmente são os refugiados internos, pessoas que tiveram de abandonar suas casas para fugir da seca e dos confrontos. A princípio, elas se instalaram de maneira absolutamente provisória, em campos ao redor de grandes cidades. Há centenas de milhares de pessoas deslocadas internamente. Há um problema de saúde grave, ligado especialmente à desnutrição e à falta de abrigo. Há ainda o inverno, extremamente rigoroso, que chega daqui a poucas semanas. - Folha de S.Paulo, 1 9/set./2001.

No texto anterior, há palavras e expressões que estão em relação sinonímica, a saber:


- Problema principal - problema de saúde – desnutrição

- refugiados internos - pessoas - milhares de pessoas

A coesão por sinonímia permite não só estabelecer relações entre as partes do texto, como também obter informações sobre os elementos envolvidos: o problema principal são os refugiados internos, os quais passam por um problema de saúde grave: a desnutrição.

Exemplo 7:

— Fernandinho Beira-Mar está preso, a mídia já não dá mais destaque ao perigoso bandido.

No texto, "bandido" é hiperônimo de "Fernandinho Beira-Mar", visto que este é parte daquele. Ademais, o termo "perigoso" expressa um julgamento de valor acerca do traficante. Ou seja, além de informar, a coesão por sinonímia permite ao enunciador emitir sua opinião sobre os seres e fatos mencionados.

Coesão por conectivos

As conjunções, os pronomes relativos, os advérbios e as preposições são operadores linguísticos que estabelecem conexão, coesão entre as partes do texto, além de dar direção argumentativa. O emprego inadequado dos conectivos pode gerar incoerência, ambiguidade ou falta de clareza:

Exemplo 8:

Coesão sem coerência:

É argentino, mas é boa gente. —> há coesão (com conectivo), mas não há coerência, pois não existe oposição.

Exemplo 9:

Coerência sem coesão:

•  O ataque terrorista.
• A procura do autor intelectual.
•  O deslocamento das tropas.
• A expectativa da guerra.

As frases estão soltas, sem ligação (sem coesão), mas referem-se a um único assunto (há coerência).

Exemplo 10:

Falta de contiguidade entre regido e regente:

— A ajuda deve ser intensificada aos menores abandonados. —> coesão prejudicada: distância entre regente e regido
— A ajuda aos menores abandonados deve ser intensificada. —> coesão: contiguidade entre regente e regido

Exemplo 11:

Ambiguidade (distância entre regente e regido):

—  Toalha da francesa de plástico. —> coesão mal realizada: ambiguidade
—  Toalha de plástico da francesa. —> coesão

Exemplo 12:

A direção argumentativa:

- Era inteligente porque estudava. —> causa
- Era inteligente, logo estudava. —> conclusão
- Era inteligente, quando estudava. —> tempo
- Era inteligente, se estudava. —> condição

Coesão por elipse

A elipse também é um marcador de coesão. Leia o anúncio a seguir.

A maior empresa do ramo no Brasil. Aliás, é a maior da América do Sul.

Na segunda oração, temos a elipse de "empresa"; essa oração só pode ser entendida em coesão com a frase anterior. A elipse, contudo, pode criar, em certos casos, uma ambiguidade (elipse do sujeito da segunda oração):

•  Os policiais civis atacaram os militares, pois estavam bêbados. (Quem estava?)
•  Os policiais civis atacaram os militares, pois estes estavam bêbados, (os militares)

Conectivos preposicionais (regente e regido)

Regente é a palavra que comanda a preposição; regido é a palavra comandada. Observe a manchete a seguir, propositalmente alterada; o termo regente foi deslocado de sua posição, afastando-se do regido, acarretando uma outra interpretação:

Uma das metas é acelerar o término do secretário de 22 grupos de trabalho.

A interpretação sugere que o secretário tem seus dias contados: todavia essa interpretação não condiz com o texto verdadeiro; veja os elementos que exercem o papel de regentes e regidos.

Uma das metas é acelerar o término do secretário de 22 grupos de trabalho.

Colocando o termo regido em sua posição original, teremos:

Uma das metas do secretário é acelerar o fim de 22 grupos de trabalho.

A distância entre regente e regido pode criar falta de clareza, incoerência, ambiguidades. A seguir, você lerá um texto em que a coesão prejudica a clareza, procure descobrir no texto 1 os termos regidos que estão mal posicionados, a seguir você terá a resposta.

Texto 1: sem coesão

Em uma de suas colunas, o ombudsman reproduziu um trecho de uma do jornal Folha de S.Paulo notícia do Jornal e fez uma do Brasil crítica ao título notícia da mesma.

Texto 2: detectando o problema

Em uma de suas colunas, o ombudsman reproduziu um trecho de uma do jornal Folha de S.Paulo notícia do Jornal e fez uma do Brasil crítica ao título notícia da mesma.

Texto 3: com coesão

Em uma de suas colunas, o ombudsman do jornal Folha de S.Paulo reproduziu um trecho de uma notícia do Jornal do Brasil e fez uma crítica ao título da mesma notícia.

A coesão entre as estruturas/ o paralelismo sintático

O paralelismo sintático ocorre quando uma mesma estrutura sintática é repetida, ou quando se observa uma relação de dependência sintática entre dois elementos; quando um desses elementos está ausente, teremos uma quebra de paralelismo sintático.

Texto 1:

— E belo porque com o novo todo o velho contagia. Belo porque corrompe com sangue novo a anemia. Infecciona a miséria com vida nova e sadia. Com oásis, o deserto, com ventos, a calmaria. - João Cabral de Melo Neto.

No texto anterior, o paralelismo sintático está presente na reiteração das orações coordenadas e dos adjuntos adverbiais iniciados pela preposição "com"; esse procedimento, no nível semântico, visa ao convencimento de que a vida vale a pena, o ser que nasce representa a esperança.

Texto 2:

Leia o texto a seguir, ele apresenta uma quebra de paralelismo:

Assim que Lula chegou ao aeroporto, por volta das 14h, em companhia de três ministros.

A oração subordinada adverbial temporal, "'Assim que Lula chegou ao aeroporto", está sem a correspondente oração principal, provocando um problema de coesão. Veja agora com a oração principal:

Assim que Lula chegou ao aeroporto, por volta das 14h, em companhia de três ministros, ocorreu uma manifestação contrária à viagem do presidente.

Texto 3:

No Haiti, os soldados brasileiros esperavam que o povo elegesse pacificamente o presidente e a não intervenção dos rebeldes na eleição.

A conjunção aditiva "e" deve coordenar elementos de igual função, o que não ocorre no texto; neste, o "e" está ligando uma oração (que o povo elegesse pacificamente o presidente) a uma frase nominal (a não intervenção dos rebeldes na eleição). Observe a correção;

Ato Haiti, os soldados brasileiros esperavam que o povo elegesse pacificamente o presidente e que os rebeldes não interviessem na eleição.

A coesão entre os textos/ a intertextualidade

Leia os textos a seguir, há uma relação intertextual entre eles.

Texto 1:

Oh! que saudades que eu tenho Da aurora da minha vida. Da minha infância querida Que os anos não trazem mais. - Casimiro de Abreu.

Texto 2:

Ai, que saudade que eu tenho Dos meus doze anos Que saudade ingrata Dar banda por aí Fazendo grandes planos E chutando lata - Chico Buarque.

O segundo texto recupera o primeiro, utilizando estruturas sintáticas e vocábulos deste; esse tipo de coesão denomina-se intertextualidade. Há a intertextualidade, mas não ocorre o mesmo discurso (interdiscursividade), a visão sobre a infância é diferente, em Chico não há a idealização romântica.

Lista de exercícios de coesão textual

1. A distância entre o motorista de vidros lacrados e o mendigo que pede esmola no sinal vermelho é maior que a distância entre ele e as trilhas agrestes das novelas e dos comerciais. Nas ruas esburacadas das metrópoles, ele talvez se sinta escalando falésias. No seu coração a cidade embrutecida é a pior de todas as selvas.

Em relação ao excerto citado, extraído da revista Veja e propositalmente alterado, é correto afirmar que:

A. redundâncias e tautologias interferem na clareza.
B. é claro e conciso, porém apresenta falhas gramaticais.
C. não é conciso, pois os pronomes "ele" e "seu" causam ambiguidade.
D. a clareza está comprometida pelo emprego do pronome, pessoal e do possessivo.

2. Aponte a alternativa cujo período, extraído da revista Veja e propositalmente alterado, apresenta
falha na sintaxe.

A. Num dos casos mais angustiantes entre os 23 acidentes fatais debaixo da água, um mergulhador morreu quando o sistema de respiração falhou e ele não conseguiu subir, porque estava amarrado a uma estrutura metálica, lá no fundo.
B. Assim como tantos outros administradores públicos, Júlio Lacerda, prefeito de Moema, em Minas Gerais, insistia numa velha fórmula para resolver os problemas de caixa de sua cidade: passar o chapéu nos gabinetes burocráticos da capital do Estado.
C. O Massachusetts Institute of Technology, MIT, acaba de acertar, por intermédio do Ministério da Ciência e Tecnologia, sua colaboração com o governo para implementar a infovia -jargão que designa os meios digitais de circulação de dados e informações - no Brasil.
D. Carlos de Almeida Valente, que mora na cidade de Prateados, no extremo norte do país, apontado pela Polícia Federal como um dos reis do contrabando, transportando em um de seus aviões bimotores e turbinados mais de 70% das mercadorias contrabandeadas dos Estados Unidos e Paraguai para o Brasil.

3. Leia:

A ilusão de uma verdade puramente exterior, existindo "a priori" e sem a participação do indivíduo na sua realidade intrínseca, entrou a dominar a literatura europeia[...]. A imaginação perdeu seu poder temporal e suas prerrogativas absolutas; as "construções" que não tinham por base documento principiavam a vacilar, e a observação limitou o terreno da fantasia, nivelou-lhe a superfície irregular, marcou-lhe (1) as dimensões e determinou-lhe(2) os confins, reduzindo-o (3) a uma porção insignificante e quase desprezível.

Ronaldo de Carvalho.

Observando-se o emprego dos pronomes assinalados, 1, 2 e 3, no processo coesivo do texto, dir-se-á que:

A. 1, 2 e 3 retomam a expressão "terreno da fantasia".
B. 1 e 2 retomam "superfície", 3 retoma "dimensões".
C. 1 retoma "superfície"; 2 retoma "dimensões"; 3 retoma "confins".
D. 1 retoma "terreno da fantasia";  2 retoma' "dimensões"; 3 retoma "confins".

4. Leia este fragmento de São Bernardo, atentando para o pronome destacado.

Azevedo Gondim reclamava liberdade, aos gritos. Contenta-se hoje com a renda mofina do jornal e deve os cabelos da cabeça. Conforma-se com isso.

O pronome em questão faz parte do grupo de instrumentos linguísticos que retomam partes do discurso
e promovem a coesão textual. Nesse trecho, refere-se à(s):

A. liberdade outrora reclamada aos brados.
B. acomodação do jornalista no presente, advinda de percalços e frustrações do passado.
C. dívidas e à renda ordinária provinda do jornal, com a qual Gondim se contenta atualmente.
D. dívidas geradas pelo salário mofino que Gondim recebe do jornal, com o qual se conforma nesse
momento da vida, apesar de ter protestado no passado.

5. Leia:

São Bernardo faz interagir, como num jogo, dois modos de focalizar a narrativa: de um lado o modo próprio, autossuficiente e pragmático do fazendeiro; de outro, o modo de narrar de Paulo Honório-escritor, feito de hesitações, dúvidas e interrogações, as quais ele partilha com o leitor. A dupla focalização se explica pelos tempos diferentes em que um e outro se encontram.

Lúcia H. Vianna. Roteiro de leitura: São Bernardo, de Graciliano Ramos.

Os termos em negrito, as quais, ele e um e outro, resgatam, respectivamente, estes elementos do excerto:

A. "interrogações"; "escritor"; "modos de focalizar a narrativa".
B. "modos de focalizar a narrativa"; "Paulo Honório"; "escritor" e "leitor".
C. "dúvidas   e   interrogações";   "fazendeiro"; "fazendeiro" e "escritor".
D. "hesitações, dúvidas e interrogações"; "Paulo Honório-escritor"; "escritor" e "fazendeiro".


Gabarito:

1- D
2- D
3- A
4- C
5- D

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